O termo “sugar baby” recebeu um volume de buscas histórico nos últimos quatro dias no Google. O motivo? Daniel Vorcaro, dono do Banco Master investigado por uma fraude bilionária, teria doado um apartamento de R$ 4,3 milhões para a modelo Karolina Trainotti.
A moça é uma sugar baby assumida. A informação consta em um processo de 2023, onde Karolina é acusada de ser "destinatária dos recursos de origem criminosa que Rowles pretendia omitir". Trata-se de Rowles Magalhães, réu por tráfico internacional de cocaína. Ele teria transportado drogas do Brasil para a Europa em jatinhos executivos.
A defesa alega que Karolina não sabia da origem ilícita do dinheiro e que ganhava quantias por manter um relacionamento com Rowles. "Sua inclusão nas investigações deu-se apenas por sua condição de sugar baby de um dos corréus, tendo os seus gastos pessoais sido por ele custeados no período do relacionamento amoroso", diz um documento divulgado pelo portal TAB. Mas, afinal, o que significa ser uma sugar baby?
Trata-se de um termo para definir "pessoas jovens, em sua maioria mulheres, que buscam um relacionamento com pessoas mais velhas e bem-sucedidas, que as possibilitem conhecer o melhor do mundo, através de viagens, presentes, ajudas profissionais e mentoria". Essa descrição consta no site da plataforma MeuPatrocínio, a mais popular da América Latina, e que faz conexão entre essas moças e os “sugar daddies”.
“Sugar daddies costumam ser homens bem-sucedidos, cultos, com estabilidade financeira e emocional, que valorizam o tempo. Eles não querem relações caóticas ou jogos afetivos intermináveis; procuram conexões objetivas, leves e alinhadas ao que podem oferecer”, explica Caio Bittencourt, especialista em relacionamentos e porta-voz do MeuPatrocínio.
Segundo Caio, o que encabeça a relação entre sugar baby e sugar daddy é a “compatibilidade de valores, tempo e estilo de vida”. Engana-se quem pensa que este modelo de relacionamento é baseado única e exclusivamente em interesse financeiro. “Essa ideia de que não existe amor é nada mais nada menos do que um pensamento imaturo, de quem não conhece esse estilo de vida. Até porque o amor à primeira vista pode vir sim dentro de um carro de luxo ou tomando um café em frente ao Louvre, por que não?”, indaga o especialista.
A prática de sugar baby também divide opiniões e levanta debates, especialmente, quando o assunto é a liberdade da mulher. Há quem argumente que relacionamentos com este tipo de troca podem resultar em dependência financeira e desenvolvimento de relações abusivas.
O especialista rebate: “Quando há acordo e transparência, há limite. Relacionamento saudável é aquele em que ambos evoluem emocional, social e, muitas vezes, profissionalmente. Isso é ser sugar. Mas se entra controle, chantagem, manipulação ou imposição, deixou de ser sugar; virou abuso. E abuso não é tolerado."
Outra polêmica é a comparação com acompanhantes de luxo. Caio explica que são duas experiências completamente diferentes. Na relação sugar, o ato sexual não é algo obrigatório, como em um serviço de prostituição.
“Prostituição é uma transação financeira, sexo por dinheiro. Há um serviço, um pagamento e uma entrega imediata. Sugar dating é outra lógica: é um relacionamento amoroso, é um estilo de vida baseado em maturidade emocional, financeira e generosidade. Existe alinhamento de expectativas, conversas sobre o que buscam e o que podem oferecer emocionalmente, socialmente, financeiramente ou intelectualmente e só então decidem se seguem juntos.”
Caio também desmente os estereótipos de que as sugar babies são apenas mulheres interesseiras ou sem perspectiva de futuro. “A maioria das sugar babies trabalham ou estudam. Elas são universitárias, mães solo retomando a carreira, empreendedoras, profissionais de alta performance e até executivas exaustas da superficialidade dos apps tradicionais. O clichê da 'menina interesseira' e do 'senhor milionário' simplesmente não reflete a realidade”, garante.
Para o especialista, tais estereótipos são frutos de preconceito ou falta de conhecimento sobre o assunto. “O que realmente incomoda parte da sociedade provavelmente não é o sugar, é o fato de que mulheres estão deixando de aceitar relações desiguais, onde muitas vezes elas se endividam pelo parceiro, e passando a estabelecer seus próprios termos. Quando a mulher define o que deseja, o que não tolera e o que espera em troca, ela desmonta um modelo tradicional que sempre beneficiou apenas um lado. O preconceito não nasce da prática; nasce da perda de controle sobre ela”, conclui.
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